Cinco macacos da espécie zogue-zogue, considerada uma das espécies mais ameaçadas do mundo, vivem isolados em uma pequena área de floresta no assentamento rural Gleba Mercedes, em Sinop. A espécie, identificada como Plecturocebus grovesi, só existe nessa região e já perdeu mais de 40% de seu habitat natural, segundo estudos ambientais citados pela publicação internacional Primatas em Perigo, de 2022.
Os animais estão confinados a uma área de mata menor que quatro campos de futebol. De um lado, o desmatamento avança por conta da expansão da soja e outras monoculturas. Do outro, o nível da água causada pela barragem da Usina Hidrelétrica (UHE) de Sinop, que criou um lago que eles não conseguem atravessar.

A situação foi percebida pelo agricultor Armando Schlindwein, morador da região, e publicada pelo G1. Em 2020, ele começou a observar a presença dos macacos e, em 2024, encontrou um deles sobre o telhado de sua casa. Com o apoio do MAR (Instituto Ecótono e do Movimento dos Atingidos por Barragens), ele e outros moradores iniciaram um projeto de reflorestamento para conectar a floresta isolada a outras áreas verdes. Em 2023, sementes de 47 espécies nativas foram plantadas em um hectare de área.

O primatologista Gustavo Rodrigues Canale, da Universidade Federal de Mato Grosso, explica que os zogue-zogues vivem em pequenos grupos e precisam migrar quando os filhotes crescem.
Além do desmatamento, moradores apontam que a UHE Sinop, que faz parte de um complexo com quatro usinas, também contribui para o isolamento dos animais. O representante do MAR, Anthony Luiz, afirma que a empresa teria cumprido apenas 30% da supressão vegetal obrigatória antes do enchimento do reservatório.
Árvores deixadas submersas estariam apodrecendo e provocando a morte de peixes.
A empresa Sinop Energia, que opera a usina e pertence à EDF Brasil e à Eletrobras, afirmou à AFP que cumpre todas as exigências legais e ambientais. A companhia informou que mantém monitoramento constante da fauna, flora e qualidade da água. Desde 2020, também realiza o Programa de Monitoramento de Primatas Ameaçados, sob supervisão da Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
A situação dos zogue-zogues é considerada crítica. Se nada for feito, 80% da espécie pode desaparecer nas próximas duas décadas, segundo estimativas de especialistas.